“Vou ser a pessoa que saiu ou a pessoa que ficou ao lado dessas pessoas?”

Lucas é brasileiro, nascido em Parintins, estado do Amazonas, formado pela Universidade do Estado do Amazonas. Foi alocado em UBS na cidade de Manaus. Segundo ele, a proposta foi: “você quer trabalhar onde ninguém mais quer?”. Entrou no Programa Mais Médicos pela indicação de um amigo, sendo uma oportunidade de estar na capital e se preparar para a Residência. No dia-a-dia do trabalho, começou a ver outras realidades que o mantiveram no programa e a ir melhorando as atividades na UBS onde está alocado, cumprindo com a sua atuação enquanto profissional médico. Sendo assim, os motivos de permanecer na cidade onde está alocado superaram os iniciais. O que o motiva mais, hoje, é o trabalho que desenvolve na comunidade onde atua: “essa é a satisfação que me faz ir trabalhar todos os dias, é isso me faz contente! Como vou sair de férias e deixar as três grávidas que estou acompanhando?”. Refletindo sobre esse momento de sua vida, ele explica: “fui me conhecendo nesse processo e sigo trabalhando para justificar todo o investimento que foi feito em mim para melhorar o cuidado a essas pessoas”. A UBS onde atua é bastante pequena. É uma área usada por dependentes químicos todas as noites e com estrutura bastante precária: “precisamos limpar a fachada todos os dias; o abastecimento de água praticamente inexiste; às vezes, o carro pipa repõe a nossa água; da pia do banheiro não sai água”. A insegurança também é um grande obstáculo. Todas as 18 grávidas acompanhadas já foram assaltadas. A UBS fica trancada por grande parte do tempo: “quem não conhece a UBS, acha que ela está fechada”, relata... Por muito tempo, comia-se e se fazia curativos na mesma sala. Quando Lucas chegou, mudanças nesse sentido foram realizadas. Ainda assim, as condições ainda estão longe de serem as ideais. Falando sobre o Curso, confesso que, por desconhecer essa proposta educacional, desconfiava da modalidade a distância: “aos poucos, fui vendo o que estava por trás das ferramentas tecnológicas: a orientação personalizada, as trocas com os colegas nos fóruns. Lucas vai além quando fala sobre o Curso: “não sei como vim até aqui sem utilizar esses recursos; o fato de ser “a distância” faz justamente esse processo ser ‘menos distante’, você faz parte de um grande grupo, achei perfeito. É uma experiência que ainda pretendo aprofundar ainda mais!”. Diz que já atendeu debaixo de árvore, em aldeias indígenas, com chuva, e não estava preparado para ver tamanha precariedade em uma capital como Manaus: “você está dentro de um posto de saúde que não tem água, não te da o mínimo de conforto e não te da segurança”. Inicialmente, confessa, teve vontade de trocar de local, mas lembrou das pessoas que necessitam dessa UBS. Foi um grande impacto para Lucas, mas, ao longo do tempo, acabou servindo de motivação e, grande parte disso, pudemos assistir na defesa de seu TCC. Concluindo sua conversa conosco, Lucas diz que, no momento de maior dificuldade, perguntou-se: “vou ser a pessoa que saiu ou a pessoa que ficou ao lado dessas pessoas?”. O trabalho de Lucas logo estará disponível no site do Curso de Especialização da UFPel... FOTO: da esq. para a dir. Ernande Valentin do Prado (Apoio Pedagógico) e Lucas