“O tempo que eu levo de barco, doentes também levam sendo transferidos para cidades onde possam receber melhor atendimento”

Antonio Miguel Giusmeli é cubano e está alocado no município de Santo Antônio de Sá, interior do estado do Amazonas. Viajou por 28 horas de barco, ininterruptamente, pelo Rio Alto Solimões, até chegar a Manaus para defender seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Veio acompanhado pelo colega e amigo Antonio Triana, também Cubano e médico vinculado ao Programa Mais Médicos – que atende em uma comunidade indígena próxima a Santo Antônio de Sá, abrangendo 16 aldeias. O que mais tem chamado a atenção de Antonio, em sua experiência no Brasil, é a dificuldade das pessoas que vivem em localidades de difícil acesso. Segundo ele, são pessoas felizes, que levam uma espécie de vida paralela, muito distinta do cotidiano urbano tradicional. Em suas palavras: “vivem em outro mundo”. Ele explica que não existe atenção secundária em saúde nessas localidades: “o tempo que eu levo de barco, doentes também levam sendo transferidos para cidades onde possam receber melhor atendimento”. Há um hospital em Santo Antônio de Sá, porém, segundo ele, bastante pequeno e com poucas condições. Comparando o curso com os de outras universidades, Antonio enxerga o Curso da UFPel como muito bem estruturado e organizado. Destacou o espaço Diálogo Orientador Especializando (DOE), os casos clínicos interativos e o Teste de Qualificação Cognitiva (TQC). Para ele, todas essas ferramentas contribuem para o aprendizado dos profissionais-estudantes. Ele considera interessante, ainda, o fato de o curso lidar com a realidade, muito importante por provocar o contato com a comunidade e o acesso aos protocolos do Ministério da Saúde. Gostou muito da relação entre as unidades do Curso: “vamos fazendo as unidades e a soma de tudo culmina no TCC”. Após a Análise Situacional, relata Antonio, é possível definir uma ação programática para realizar a intervenção. Ele acredita que fez a escolha certa, pois as coberturas de atendimento a hipertensos e diabéticos era muito baixa. Antonio avalia as culturas de Cuba e Brasil como muito similares. Mas destaca a grande desigualdade entre as classes sociais no Brasil. Lembra o programa Bolsa Família, das pessoas que são a favor e das que são contrárias: “como essas pessoas estariam vestidas e comeriam sem esse programa?” Ele também menciona outro programa do Governo Federal, que levou energia elétrica à cidade. Antes, para conservar o peixe, as pessoas da comunidade usavam grandes quantidades de sal, o que reflete diretamente na saúde das pessoas, mais gravemente dos hipertensos. Hoje, com a energia elétrica, eles podem usar freezers e geladeiras para conservar seus alimentos. Após a Defesa do TCC, os dois Antonios rumam de volta para Santo Antônio de Sá, em uma longa jornada de barco para as comunidades que atendem... FOTO: da esq. para a dir. Antonio Miguel Giusmeli e Antonio Triana